domingo, 8 de fevereiro de 2009

"Fugi pelo desejo de ser livre!"

Acabei de assistir ao programa Esporte Espetacular, da rede Globo. Na última matéria do programa, uma surpresa. Contaram a história de Roberto Perez Ondarse, ex-atleta cubano, que fugiu do regime do ditador assassino Fidel Castro em 1963, durante as Olimpíadas Universitárias, a conhecida Universíade.
Perez Ondarse era jogador de basquete. Anos antes, em Cuba, conhecera Maria Lúcia Caldeira, conhecida como Marilu, atleta brasileira da equipe de vôlei. Com medo do regime comunista que se instalara na ilha, Ondarse combinou, por cartas, sua fuga. Sabendo que a Universíade ocorreria em Porto Alegre, deixou tudo armado para fugir durante a competição.
O problema é que no início da matéria a chamada foi assim: "fuga por amor". Parecia que o atleta tinha fugido da ilha de Fidel simplesmente porque havia se apaixonado po Marilu. Hummm... Será? No decorrer da reportagem todavia, a verdade aparece. Num determinado momento, emocionado, Ondarse afirma: "estava deixando a minha família e deixando o meu país PELO DESEJO DE SER LIVRE". Claro que sua história de amor com Marilu foi verdadeira, tanto que estão juntos até hoje, mas as palavras do ex-atleta deixam claro que a razão principal de sua fuga foi o desejo de não viver num país dominado por uma ditadura comunista, ditadura essa que perdura até hoje e já acumula milhares de mortes e violações aos direitos humanos.
Na mesma matéria, houve ainda tempo para Perez Ondarse destacar que ajudou Rafael Capote a fazer o mesmo que ele: Capote fugiu do regime castrista no Pan de 2007, no Rio de Janeiro. Ondarse lhe deu apoio, mesmo sem conhecê-lo, e disse que Capote, que hoje joga profissionalmente na Itália, o chama de padrinho em gratidão pela ajuda prestada.
Por fim, mais uma declaração surpreendente: Ondarse revelou que tentou ajudar os boxeadores cubanos Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux, chegando a ir à polícia federal e ao hotel onde eles supostamente estariam, segundo informações da própria polícia. Não conseguiu nenhum contato com os jovens atletas e afirmou, olhando para a câmera com cara de raiva: "mentira". Ele se referia a todas as informações que a polícia federal deu sobre o episódio na época. Afirmou ainda ter certeza de que os boxeadores não queriam voltar para Cuba.
Enfim, o que parecia ser uma matéria bobinha do Esporte Espetacular sobre dois atletas apaixonados acabou se mostrando um furo de reportagem sobre um dos eventos mais nebulosos do governo lulo-petista.
É claro que os boxeadores não queriam voltar para Cuba, tanto que um deles fugiu de novo e hoje é boxeador profissional.
O que fica da matéria é a seguinte mensagem: há 50 anos o regime do ditador assassino Fidel Castro retira a liberdade do seu povo, e o governo brasileiro, que se gaba da tradição nacional em concessão de asilo e refúgio a perseguidos políticos, compactuou com esse regime num episódio deprimente para a nossa diplomacia. A mando de Tarso Genro, a polícia federal caçou dois jovens que queriam apenas liberdade, tratou-os como bandidos e os devolveu a Cuba, mesmo sabendo que lá eles e suas famílias corriam sérios riscos de sofrer represálias.

2 comentários:

Anônimo disse...

Acabei de ler esse post e tenho que dizer que embora eu discorde de algumas posições e frases suas, a sua indignação, o seu senso de justiça e a sua sensibilidade diante dos fatos relatados/mencionados, me fazem continuar admirando você e insistindo na leitura, às vezes 'tão difícil', deste seu blog.

Cubanbrazilian disse...

Oi André,

gostei muito de suas palavras. Eu conheço muito bem essa história, pois sou filha dessa relação de amor-liberdade.

Ainda bem que alguém leu nas entrelinhas, pois por vezes parece que Cuba é retratada como se fosse um paraíso. Só se for para os turistas europeus, porque para os cubanos é um calvário.

Parabéns pelo texto, mas preciso fazer apenas uma correção. Meus pais se separam há muuuuuitos anos. Eu tinha 5 anos. O casamento durou parcos 8 anos, mas a liberdade...essa sim dura até hoje.

Renata Perez