“Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que esperamos que saia o nosso jantar, mas sim do empenho que eles têm em promover o seu próprio interesse” (Adam Smith, em A Riqueza das Nações)
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Boa aventura: viaje no pensamento esquerdopata intelectualizado e cheio de consciência social de Boaventura de Sousa Santos.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Como "Edgar" e "João Alfredo" construíram um pouco do que sou hoje...
Não sei o porquê, mas ultimamente tenho me lembrado muito das minisséries televisivas a que assisti quando era criança. Eu era meio estranho: ao mesmo tempo em que adorava os desenhos animados, como todo pirralho da minha idade, era obcecado por séries e documentários. Mas peraí, viu? Eu não era nenhum moleque “cabeça”, metido a adulto. Sempre achei isso ridículo. Criança precoce demais, sobretudo quando se trata daquela precocidade “forçada” – forçada muitas vezes pelos pais, diga-se – é a coisa mais ridícula do mundo, na minha opinião. Criança é criança, adulto é adulto, jovem é jovem... Como diz o funk do momento, “cada um no seu quadrado”. Ou, como disse Falcão, “homem é homem, menino é menino”.
Pois bem. Uma das minisséries que marcaram minha infância/adolescência foi “Anos rebeldes”, da Rede Globo. Xiii, alguém deve estar pensando: “oxe, e ele não é de direita!?”. Ora, esperem que eu molhe o bico, pelo menos.
Em primeiro lugar, eu era muito jovem quando assisti a minissérie. Não tinha muito senso crítico ainda. Mas mesmo assim eu juro que nunca me deixei contaminar muito pelo endeusamento dos “rebeldes” revolucionários. Na minissérie, pelo que eu me lembro, muitas vezes os conflitos entre os “engajados” e os “alienados” eram desenvolvidos com bons diálogos entre os personagens da trama. Claro que a minissérie mitificou (sim, é sem o S mesmo) os esquerdistas que supostamente lutavam pela democracia (eles lutavam mesmo era pela implantação de uma ditadura “deles”, de esquerda, que seria muuuito pior, se é que se pode fazer esse tipo de comparação), e eu posso ter me seduzido um pouco pela onda dos jovens “cabeças”, mas isso não durou muito. Em muitas ocasiões, eu perguntava ao meu pai, meio confuso: “pai, eu acho que Edgar está certo, você não acha?”. Edgar era o personagem interpretado pelo ator Marcelo Serrado, que crescia profissionalmente trabalhando duro enquanto seu amigo João Alfredo, o “engajado” (Cássio Gabus Mendes), combatia os milicos. Os diálogos foram marcantes para mim, assim como um do filme “O que é isso, companheiro?”, que um dia tratarei em outro post. Eu me perguntava: por que o cara que quer trabalhar e viver sua vida é retratado como um escroto, e o outro é endeusado como o mocinho que tem ideais e luta pelo seu sonho? Pô, o outro também tem seus ideais e também está lutando por eles! Por que dizer que uns ideais são mais nobres do que outros? E eu me lembro muito bem de uma noite, em que eu cheguei pro meu pai e perguntei: “pai, você lutou contra a ditadura?”, e ele me respondeu: “filho, eu até que fui a uns encontros, mas neles só havia porra-louca vagabundo. Preferi ir trabalhar e ganhar meu dinheiro”. Confesso que o “clima” de rebeldia da minissérie tinha me contagiado, e fiquei um pouco decepcionado. Mas depois eu pensei bem e concluí que o meu pai estava certo. Papai teve o seu lado “Edgar” e renegou seu lado porra-louca “João Alfredo”.
A minissérie não me trouxe apenas esses questionamentos. Ela também me fez odiar o regime de repressão, a tortura e a censura. Eu ficava indignado com tudo o que acontecia a mando dos militares. E sempre recorria ao meu pai para saber os detalhes.
“Anos rebeldes” foi muito marcante mesmo para mim. Se no começo eu admirava os rebeldes – era impossível não sentir um mínimo de admiração, tamanho o endeusamento que a minissérie promoveu –, no final eu fui criando um certo abuso, mas sem jamais aceitar os desmandos dos milicos. A garota-problema Heloísa (Cláudia Abreu), com suas doidices e modernices, foi começando a me irritar. Mas sua morte trágica foi um choque.
Tudo isso fez com que “Anos rebeldes” tenha sido um dos programas mais importantes que eu vi na minha infância/adolescência. Aquele misto de sentimentos me deixava muito confuso, porque eu era ainda muito jovem. Eu me sentia culpado por não endeusar o João Alfredo, que eu comecei a achar um chato, um idiota, um bobão. Eu pensava: “pô, mas esse cara tá errado!”. E depois eu ficava indignado com a tortura que os milicos praticavam contra um militante. “Anos rebeldes”, portanto, não foi como “Raízes” e “Fuga de Sobibor”, que mencionei nos posts abaixo. Aquelas duas minisséries me marcaram, mas nenhuma delas me trouxe tanta confusão quanto “Anos rebeldes”. Ao fim da minissérie, eu não sabia se estava certo ou errado em muitas de minhas conclusões. Aliás, eu não conseguia tirar muitas conclusões. Meu pai sofreu, viu? Eu o torpedeava com perguntas e mais perguntas...
Hoje eu sei muito bem o que queriam aqueles “rebeldes”. Hoje eu sei que a ditadura militar brasileira foi um período triste da nossa história. Os porões do DOPS criaram uma chaga que dificilmente a jovem democracia brasileira cicatrizará. A tortura e a censura nos rebaixaram moralmente e nos corarão de vergonha por um bom tempo.
Mas tudo isso jamais vai me fazer não enxergar o mal que os “rebeldes” representavam. Os companheiros que pegaram em armas, no campo e na cidade, e que saquearam, seqüestraram e mataram em nome de uma suposta boa causa revolucionária eram tão perigosos – ou mais! – do que os milicos que editaram o AI-5.
Hoje eu posso dizer, sem dúvida e sem confusão: não se deve ter vergonha de nenhum adulto de hoje que foi um jovem “Edgar”, mas é possível, sim, questionar muitas atitudes de adultos de hoje que agiram como um jovem “João Alfredo”.
E mais: “João Alfredo” hoje deve ganhar uma boa pensão como anistiado político, enquanto “Edgar” continua trabalhando e levando sua vida adiante.
É isso...
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
A banalidade do mal...
A cena é forte!
Um dos jovens judeus que está trabalhando como escravo no campo de concentração de Sobibor é enviado por um guarda da SS nazista para mandar um recado ou coisa parecida a outro guarda. Ele então se desloca até o local do "chuveiro" e vê o que está acontecendo com todos os outros judeus, sobretudo mulheres e crianças. Eles entram nus no galpão e são envenenados com o gás que é solto por um motor a diesel.
Uma criança tenta fugir, e um dos guardas solta um cachorro para atacá-la e matá-la.
Precisa dizer algo mais?
Fuga de Sobibor ("Escape from Sobibor").
Se a minissérie "Raízes", que eu mencionei no post abaixo, marcou minha infância e me fez começar a gostar de estudar história, com certeza a série "Fuga de Sobibor", que assisti na Globo há bastante tempo, me fez começar a gostar de estudar política e a consolidar em minha cabeça as idéias do liberalismo e do individualismo.
"Fuga de Sobibor" é uma série que retrata a única fuga bem sucedida de judeus de um campo de concentração nazista, localizado em Sobibor, na Suíça.
Os judeus (e também prisioneiros soviéticos) chegavam em trens e desembarcavam para a morte. Alguns poucos que sabiam algum ofício eram usados como escravos, enquanto os outros - sobretudo mulheres e crianças - eram mortos em um enorme galpão com gás jogado por um motor a diesel. Os judeus iam para a morte achando que iam tomar banho: o galpão era chamado de chuveiro pelos guardas da SS nazista. Até que um dia um dos judeus presenciou a morte de seus amigos no tal "chuveiro", contou para os demais que estavam escravizados com ele o que viu e a fuga foi planejada. Dos 600 judeus que tentaram fugir, 300 conseguiram. No entanto, dias após quase todos foram recapturados e mortos. Apenas uns 50 conseguiram sobreviver.
Eu era bastante jovem. As cenas eram chocantes. Anos depois Steven Spielberg ganhou o Oscar com o filme "A lista de Schindler", retratando na telona com muita competência o holocausto. Pois eu já conhecia toda aquela crueldade desde os dias em que assisti, atentamente, aos episódios de "Fuga de Sobibor".
De fato, "eu preciso conhecer a natureza do mal se pretendo combater o mal", como bem disse Reinaldo Azevedo num excelente texto publicado no site Primeira Leitura, que tenho guardado até hoje.
As séries "Raízes" e "Fuga de Sobibor" me fizeram, ainda jovem, conhecer um pouco a natureza do mal. Essas séries, portanto, contribuíram - e muito! - para a formação dos meus valores morais, que guardo em mim até hoje.
Conhecendo um pouco a natureza do mal, exposta com muita clareza nessas duas fantásticas séries, eu pude perceber que não há um regime perfeito - porque o homem não é perfeito -, mas também pude formar a convicção íntima de que jamais aceitarei um regime que ignore a liberdade e os direitos individuais.
Claro que eu e o mundo podíamos ter aprendido isso sem que a história precisasse registrar tragédias humanas como a escravidão e o holocausto.
Mas o mundo é assim mesmo, humano como nós. Sempre imperfeito, muitas vezes injusto... Tomara que, pelo menos, esteja aprendendo com os erros do passado e buscando se tornar melhor a cada dia.
O vídeo acima é o fim da série. Se seu inglês estiver bom, você vai entender um pouco o que aconteceu com os poucos judeus que conseguiram escapar com vida. Um deles, aliás, veio para o Brasil, onde se casou se teve filhos.
Assista! Conheça um pouco a banalidade do mal.
Qual é o seu nome? Meu nome é Kunta Kinte!
Com certeza, o programa de TV mais antigo do qual eu me lembro é a série RAÍZES (ROOTS, em inglês), que passou no SBT há bastante tempo. Eu ficava até tarde esperando para assistir. Fiquei impressionado com muitas cenas, o que fez meu pai tentar me impedir de ver a premiada série. Mas ele não conseguiu. Eu vi. Aliás, não só eu. Raízes foi a minissérie televisiva mais assistida de todos os tempos. A série conta a história dos africanos que foram trazidos como escravos para a América, e tem como personagem principal o jovem Kunta Kinte. O objetivo principal da minissérie é mostrar a saga dos negros na sociedade americana, desde a escravidão até o movimento dos direitos civis de Martin Luther King.
Eu já encontrei pela internet um jeito de comprar os DVD's da série.
Se você nunca a assistiu, dê uma olhada no vídeo acima. É a cena mais marcante, na minha opinião. Kunta Kinte é "rebatizado" de Tobby pelo seu "dono", mas se recusa a aceitar o novo nome, mesmo sendo obrigado a repeti-lo a chicotadas.
Não vejo a hora de rever todos os episódios. Você deveria fazer o mesmo.
Coletivo x Indivíduo
Há uma semana, debati na OAB de PE com um colega professor sobre a famosa "Lei seca". A pletéia era de estudantes de Direito, a maioria meus alunos. Tentei "viajar" um pouco: embora tenha destacado alguns aspectos jurídicos questionáveis da lei, optei por alertar meus jovens discentes quanto ao perigo maior que está por trás dessa e de outras medidas recentes do atual Governo. O Estado está em guerra contra o indivíduo! E, se nós, os indivíduos, deixarmos, o Estado nos aniquilará.
Alguém pode estar pensando: peraí, que exagero! Não vejo isso tudo...
Acho que você deve enxergar melhor. Quando digo que o Estado está em guerra contra o indivíduo, não espero comprovar minha tese citando medidas autoritárias ostensivas. Claro que não. O Estado, na verdade, está nos enganando, fazendo com que nós entreguemos a ele nossos direitos individuais, acreditando que ele é o nosso protetor, e que só age em prol do bem comum de todos. Conversa fiada, gente! Essa é uma idéia pobre em termos de teoria política.
Lembrando desse debate hoje, eu recordei de uma excelente entrevista que o psicanalista Contardo Caligaris concedeu a Reinaldo Azevedo, na extinta revista Primeira Leitura, da qual eu era assinante. Nela, Contardo aponta o perigo de que eu falei acima, e destaca que a supremacia do coletivo sobre o indivíduo pode ser a origem do mal! Eu tenho a revista aqui na minha frente! E consegui encontrá-la na internet. Separei o trecho que interessa a esse post, destacando as partes que mostram bem meu ponto de vista. Segue:
(...)
REINALDO: Você endossaria a frase do Samuel Johnson de que o patriotismo é o último refúgio do canalha?
CONTARDO: Sem nenhuma dúvida. Qualquer tipo de fidelidade que passa na frente do foro íntimo é, para mim, a definição do mal.
REINALDO: É a destruição do indivíduo.
CONTARDO: Exatamente. Porque, quando isso acontece, aí tudo é permitido. No fundo, a única coisa que coloca limites ao horror, para mim, é o foro íntimo. Eu digo que é o mal porque é a definição do mal do século 20, que deu no fascismo, no nazismo, no stalinismo, em Pol Pot.
REINALDO: Há uma demonização do indivíduo hoje em dia.
CONTARDO: Ah, completamente! E por conta de um equívoco. Para mim, individualismo é uma palavra nobre. Louis Dumont é um dos meus mentores intelectuais. Acho que ele é um colosso da antropologia do século 20. O individualismo não tem nada a ver com o egoísmo, mas com uma sociedade em que o indivíduo é um valor superior à comunidade. Eu sei que você gosta disso porque, outro dia, fez alusão a esse pensamento naquele encontro, e eu disse para mim mesmo: “Ah, pensamos do mesmo jeito”. Pois bem: nós dois compartilhamos da idéia de que a tendência antiindividualista é muito presente na parte menos interessante do Iluminismo francês, especificamente em Rousseau. O conceito da vontade geral é verdadeiramente uma das raízes ideológicas do que aconteceu de pior no século 20.
REINALDO: Outro dia escrevi um texto dizendo que Rousseau é o pai de todos os autoritarismos. O que eu recebi de porrada foi uma coisa fabulosa!
CONTARDO: Mas ele é! O conceito de vontade geral é um perigo ideológico. O lado do Iluminismo francês que me interessa é Montesquieu. Mas, depois disso, o que me interessa é Locke, Smith... Não deixa de ser curioso que o Iluminismo anglo-saxão não tenha feito muito escola. É considerado inferior ao francês. E a realidade é que o francês produziu o Terror, Napoleão e volta dos Bourbon, depois Napoleão 3º. E, de fato, antes que a França se tornasse republicana, passou-se um século, enquanto o pensamento inglês do século 17 e 18 produziu uma monarquia com uma Magna Carta, produziu os EUA. Não estou inventando nada. Hannah Arendt foi a primeira a dizer que a verdadeira revolução do século 18 foi a americana, não a francesa.
Estamos vivendo num Estado policial? Eis as opiniões de um boboca e de um pensador.
"O QUE você acha da situação política? Nada, porque tenho um primo que achava e até hoje não o acharam!".
Vale uma enquete...
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Abaixo esses abaixo-assinados dos esquerdopatas...
Pois bem. Manoel Carlos, o autor de novelas da Globo, concorda comigo. Ele escreveu um artigo na VEJA RIO dizendo exatamente isso. Sabe o que os artistas fizeram? Um abaixo-assinado. Caio Blat, um metido-a-cabeça de carteirinha, é o mais revoltado da turma. Boboca!
Cala a boca, Caio Blat!
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Oxe!
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Parabéns a você, Jô Soares, cada vez mais bobão e paga-pau dos neo-petistas que querem seqüestrar o País.
Eu já publiquei, faz tempo, um longo post falando sobre o quanto Jô Soares ficou chato de uns tempos pra cá. Suas piadas não têm mais graça nenhuma, seu programa está cada vez mais insuportável, e ele insiste em "se achar".
Jô é um daqueles "intelequituais", pessoas endeusadas por certa parte da opinião pública e que costuma sempre ser pautado pelo posicionamento politicamente correto imposto pelo consenso burro, geralmente forjado pela ideologia esquerdista.
Jô adora levar ao seu sofá outros "intelequituais", e lá eles se esbaldam falando uma série de bobagens, rindo e se deliciando com os aplusos da platéia.
Nesse vídeo, Jô faz uma média com os lulo-petistas, elogiando a Ministra Dilma e ridicularizando o senador Agripino Maia, tudo porque ele questionou a Ministra, em seu depoimento à CPI dos cartões corporativos, sobre uma entrevista em que ela afirmou ter mentido aos torturadores da ditadura. É claro que a Ministra nadou nas ondas da resposta. Fez voz de choro, levantou a voz, lembrou que foi torturada pelos militares e finalizou com uma frase de efeito: "diante da tortura, quem tem coragem e dignidade fala mentira".
Jô mostra o vídeo em seu telão e faz a sua média com os patrulheiros do lulo-petismo. Bate palmas, exalta a Ministra, zomba da cara do senador e ainda tenta distribuir lições de gramática. Ridículo!
O que todos esqueceram é que a Ministra Dilma, em que pese o discursinho inflamado de revoltada revolucionária, estava ali para responder pelo dossiê fajuto que montou contra o casal FHC. E mentiu! E como mentiu! Mentiu descaradamente! E dessa vez, amigos, ela não estava sendo torturada, não!
Mentirosa!
terça-feira, 13 de maio de 2008
sábado, 10 de maio de 2008
Por que Piquet foi o maior piloto de todos os tempos? Por isso...
É, amigos... Ele fez essa ultrapassagem em cima de um cara chamado Ayrton Senna, sabe?
Parece que ele está pilotando um kart, né? O carro fica de lado, derrapando, e ele segura no freio e no braço. Incrível!
A frase final do vídeo acima, dita por um dos maiores pilotos da fórmula 1, o escocês Jackie Stewart, resume bem o que significa essa ultrapassagem de Piquet sobre Senna.
domingo, 27 de abril de 2008
Desculpem-me...
Desculpem-me.
Espero que pelo menos dê pra ler. Vale a pena o esforço.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Um pouco de Bruno Tolentino.
(A Ivan Junqueira)
Não há como agarrar-te à naturezaquando a asa da noite baixa e faza sombra sobre a acha, a lenha presaà luz da labareda que a desfaz;morres despreparado ou morres bem,mas passas pela cinza, meu rapaz.Tudo talvez ressurja mais além,mas ao abutre, albatroz, águia ou condoro vôo acaba por pesar e temque perder altitude no esplendor:dos páramos à esteira de uma naveestende-se a amplidão, mas sem reporfôlego a um coração até que a averecolha a asa e pronto, se acabou,foi-se o que era tão doce! Tão suavelevitou-se e mais nada lembra o vôo...Nada, nem mesmo a terra, eqüidistantedo que caiu como do que voltou,com uma equanimidade impressionante.E caso a interpelassem que diria?Nada outra vez, ou menos que o ex-amantefingindo-se impassível se algum diaouve dizer que tudo acaba assim.Pois foi assim que o espectro da poesiasurgiu-me um belo dia, e veio a mimassim que eu consegui levar a sérioos canteiros de Kant num jardimà beira Tâmisa, ante um cemitério...Lá estivera eu de mão no queixoa espanar as lombadas do mistério,seguindo a lógica ao seu belo fecho:afinal, se a equação mais arbitráriaconseguiria amarrar a terra a um eixo,qualquer cogitação imaginárianão seria nem mais nem menos frágil;divagações da hora solitária,arabescos da mente, sempre ágilao fazer de um trapézio o seu lugar.Pois foi então que, assim como um presságioobriga a respirar mais devagar,mas faz bater mais forte o coração,eu primeiro senti aquele olharantes de perceber a assombraçãoque entre o rio, o junquilho e o malmequervi caminhar em minha direção.Atônito, amparei-me a uma mulher,semidesfalecido: o encapotadoera a cara do Charles Baudelairedo retrato, cuspido e escarrado!Ninguém via o que estava acontecendo,em toda aquela gente ali ao ladoninguém notava aquele rosto idênticoà corola da rosa corroídaem que Blake encarnara o sofrimento.E lá vinha ele andando! Espavoridamas alerta, habilíssima colméia,a mente me exigia uma saídae, assim como o avestruz ante a alcatéia,insistia em não ver: não, não seria,não podia ser ele, era outra idéiaa espumejar na velha alegoriados nevoeiros que complicam Londres...Mas não havia erro! A ventaniahavia depenado tanto as frondesque atirava topázios e safirascontra o bueiro em brasas do horizonte,mas nele havia o ar dessas mentirasque dizem a verdade: confrontou-mee num rápido olhar deixou-me em tirasos trapos da razão – era o meu homem!Há múmias que uma vez desembrulhadastêm escrito na cara o nosso nome.Carros, ônibus, gente nas calçadas,um semáforo ao longe, vaga-lumeestático entre sombras apressadas,e aquilo a se agitar que nem um cumede palmeira no ar – e andando, andandoe desferindo o olhar como um perfumede gangrena fatal ensarilhandoo eterno câncer da imaginaçãoque desorbita a mente como um bandode morcegos agrava a escuridão.Por fim parou-me ao lado e imagineiouvir (talvez sonhasse, talvez não...)um balbucio familiar e cheiode ecos aos que andamos pelo canto:“Andaste num vazio sempre alheio,entre noções apenas e, no entanto,nunca bastou sequer a consolar-tetanta fabulação cheia de espanto,de dor... Buscas o todo parte a parte,queres as perfeições da geometria,e ao fim do sonho circular da arteentregas tudo à fantasmagoria,aos jogos malabares da ilusão.Andas equivocado e nem seriade surpreender tua equivocação,porque, se alguma vez desconfiastedessa imprudência, abriste o coraçãoà luz conceitual, o belo trasteque temes porque o adoras e te leva,como o refém que és do que adoraste,de lição em lição à mesma treva.É tudo sempre a treva tumultuosa,não por causa da carne, que se elevaquando quer à estação miraculosa,mas por causa do olhar que não quer vere abisma-se em si mesmo, como a rosaamada pelo verme e sem poderde o recusar, tentando resignar-se.Não te resignes mais a conceberum triunfo de idéias, um disfarcepara as caras da morte neste mundo,uma equação qualquer que a mascarasse,como o médico mente ao moribundoe o coitado a si mesmo: também eumeti-me com paixão nesse infecundoescrínio de ilusões, mas vem do céua luz que nos sustém, a que alucina,a luz conceitual, nasce de um breu.Não sigas mais a falsa peregrinaque rapta a imagem, rouba-lhe o reflexoe entrega os dois a um jogo que terminapor desfazer de tudo a cada nexo.A terra é provisória e improvidente,tudo é relâmpago entre a morte e o sexo,mas a alma faminta não consenteque lhe mintam! A Idéia te convidamas não recebe nunca e, de repente,entre a porta da entrada e a da saídaperdes as proporções e logo a conta,o fio da meada e o dom da vida;fecha-se a última jaula e a fera tontadescobre que agoniza e morre presa.E no entanto repara: o cisne apontapara a altura cantando, e com certezaessa canção no extremo transfiguraa coisa moritura e a alma surpresaentre o número, o nada e a noite escura...
terça-feira, 22 de abril de 2008
Um discurso para a história!
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
A lição de moral do Homem Aranha.
Nesse último final de semana eu assisti ao filme "Homem Aranha 3". Eu sempre gostei desses filmes de super heróis. Aliás, quem não gosta, né?
Eu não sei quais são os desenhos animados que a meninada vê hoje em dia, mas me lembro muito bem dos desenhos que eu via quando era criança. De todos, os que eu mais gostava eram He-man e She-ha (é assim que se escreve?), além, é claro, de Caverna do Dragão. O que esses desenhos todos tinham em comum? A tentativa de passar às crianças que assistiam a eles alguma lição de moral. Lembram que no final de He-man o Gorpo sempre aparecia explicando o que nós devíamos aprender com aquele episódio? Eu lembro. E isso é o mais legal, na minha opinião, nesses filmes e desenhos de super heróis: a lição de moral que eles trazem para nós.
Hoje eu não vejo mais desenhos animados, mas adoro os filmes dos super heróis. Parece que um novo filme de Batman vem aí, né? Já estou agurdando ansiosamente.
Mas de todos esses filmes, os que eu mais gosto, disparado, são os do Homem Aranha. E sabem por quê? Pelas lições de moral que ele sempre traz. No primeiro filme, o tio de Peter Parker, o nerd que vira super herói, diz para ele: "um grande poder exige um grande responsabilidade". Parece bobo, um clichê barato. E é. Mas ao mesmo tempo eu acho algo extremamente profundo. Ela resume o grande dilema que deve perturbar a consciência dos super heróis: afinal, o que fazer com esse poder que me foi dado? Sim, é isso mesmo. Até os super heróis têm seus dilemas morais. Até os super heróis precisam fazer escolhas na vida. E para eles, fazer essas escolhas é mais difícil, porque a responsabilidade deles é maior que a nossa. O grande poder que lhes foi dado exige deles uma imensa responsabilidade.
No terceiro filme do Homem Aranha, que eu vi nesse fim de semana e cujo trailler legendado está no vídeo acima, há muitas lições soltas nos diálogos de Peter Parker com sua tia May, com sua namorada MJ e com seu amigo Harry. Mas a melhor lição de todas é dada pelo próprio Peter Parker, nas últimas frases do filme, em que ele diz o seguinte: "não importa o que nos aconteça, nem mesmo as nossas lutas internas. Nós sempre temos escolha. (...) As nossas escolhas determinam quem somos. E sempre podemos escolher fazer o certo".
Sim, é verdade. Nós sempre temos escolha. Por mais difícil que seja a situação em que nós nos encontramos, nós sempre temos escolhas. Sempre. E nossas escolhas não determinarão apenas o caminho que seguiremos, mas, sobretudo, que pessoa nós seremos. E mais: dentre as escolhas que temos, sempre há uma que é a certa. Enfim: nós sempre temos escolha, e sempre podemos escolher fazer o certo. Peter Parker está corretíssimo. Essa é a maior lição que ele nos dá.
No filme, como bem resume o trailler, a maior de luta de Peter Parker - e do Homem Aranha, conseqüentemente - é com ele mesmo. São as lutas internas mencionadas nas frases finais que eu eu transcrevi acima. Aquela roupa preta lhe confere ainda mais poder, mas lhe retira o senso de responsabilidade que todo super herói tem que ter.
Claro que não existem super heróis. Mas a lição serve para nós todos, seres humanos comuns. Às vezes aquela roupa preta também gruda em nós, e é difícil conseguir retirá-la. Às vezes nossas lutas internas nos impedem de perceber que existem escolhas, e que dentre elas existe a escolha certa. Às vezes as coisas estão tão bem na nossa vida, em certos aspectos, que nós nos sentimos poderosos demais, mas nos esquecemos da singela lição do tio de Peter, e não agimos com a responsabilidade necessária.
Sim, o Homem Aranha venceu suas lutas internas. Ele, que sempre combateu o mal e fez sempre o bem, teve que lutar mais ainda quando viu que o mal estava dentro dele. É a mensagem do começo do trailler. Mas e nós? É preciso sermos super heróis para vencermos o mal que às vezes nos invade? É preciso termos super poderes para vencermos nossas lutas internas?
Claro que não. Somos pessoas normais, mas enfrentamos problemas normais também. E não podemos nunca esquecer da lição final do filme: sempre há uma escolha, e é sempre possível fazer a escolha certa.
Meus "versos íntimos", muito íntimos.
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Aconstuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
E escarra nessa boca que te beija!
(Augusto dos Anjos)
domingo, 27 de janeiro de 2008
A frase da semana!
Perfeito!
Eu já disse isso, indiretamente, neste blog. É muito comum que as pessoas dêem muito valor ao que pensa a "classe artística", sobretudo se se tratar de um "artista engajado". Eu me lembro de que na campanha eleitoral era comum a circulação de e-mails com trechos de entrevistas desses "artistas engajados" declarando voto em Lula. Um deles trazia um trecho de uma entrevista de Ariano Suassuna em que ele defendia Lula e seus "projetos sociais". No final, Ariano declarava que votaria no barbudo. O título do e-mail era o seguinte: "mais um para a direita desqualificar". Errado!
Ninguém precisa desqualificar Ariano Suassuna, um dos maiores prosadores brasileiros do século passado, e um dos maiores vivos hoje em dia, só porque ele votou e continua votando em Lula. Mas é possível - e necessário, na minha modesta opinião - desqualificar o seu pensamento político. O que ele falou nessa entrevista foi um monte de bobagem. E ele fala muita bobagem, sobretudo quando insiste em exercer o seu antiamericanismo exacerbado, como um típico esquerdista de miolo mole. Mas e daí? Ele continua sendo um escritor de primeira linha.
O que as pessoas precisam saber é que ser famoso não dá a ninguém o dom da verdade, nem faz com que alguém passe a ser especialista em generalidades.
A frase de Débora Falabella sintetiza essa idéia muito bem. Eu já gostava dela como atriz, e agora gosto ainda mais.